Os Erros Inatos da Imunidade (EII) – antes conhecidos como Imunodeficiências Primárias – foram por muito tempo considerados condições exclusivas da infância. Isso, no entanto, não condiz com a realidade.
Avanços na pesquisa e no cuidado clínico revelam que o cenário é muito mais complexo: muitos casos de EII se manifestam ou são diagnosticados apenas na vida adulta.
Por isso, muitas pessoas passam todo um período de vida sem sequer saber que são portadoras do transtorno, tendo que enfrentar as suas consequências sem receber o tratamento adequado.
Números
Levantamentos mais recentes mostram que até 80% dos afetados não sabem que portam algum EII.
Além disso, há subnotificação. No Brasil, apenas 2 mil pessoas constam no registro da Sociedade Latinoamericana de Imunodeficiências (LASID).
Estima-se que haja pelo menos 500 tipos de EII. Os números, entretanto, não param de crescer à medida que as pesquisas avançam.
Outro ponto importante é que os Erros Inatos da Imunidade são mais comuns do que se imaginava há uma década. Acreditava-se que eles atingiam um indivíduo a cada grupo de 10 mil pessoas. Atualmente, esta relação mudou para um caso a cada 1,2 mil.
O que são os Erros Inatos da Imunidade
A mudança de paradigma com relação aos EII amplia o desafio para os profissionais da saúde, em especial aos que atuam com clínica médica, infectologia, reumatologia, hematologia e imunologia.
Reconhecer os sinais do transtorno e considerar que pode se tratar de um caso de EII faz com que o adulto evite anos de morbidade, internações recorrentes e tratamentos sintomáticos que não atacam a raiz do problema.
Os EII são defeitos genéticos que afetam o desenvolvimento ou a função do sistema imunológico, fazendo com que o indivíduo seja mais suscetível a infecções, doenças autoimunes, inflamações persistentes, desregulações imunológicas – e até mesmo predisposição ao câncer.
Por que em alguns casos os EII só aparecem na vida adulta?
A principal razão, na verdade, está nos diagnósticos prévios equivocados – ou sequer feitos.
Muitos adultos passaram a vida com sintomas recorrentes mal explicados (infecções, diarréias crônicas, autoimunidades) que nunca foram investigados considerando-se a possibilidade de ser um problema mais profundo.
Há, contudo, outras explicações:
- Expressão tardia da mutação genética: alguns defeitos genéticos só se manifestam quando combinados com fatores ambientais, infecciosos ou hormonais que ocorrem ao longo da vida.
- Mutações somáticas: nem toda mutação genética tem origem hereditária; algumas são adquiridas e podem afetar uma população específica de células – os linfócitos, por exemplo.
- Variabilidade clínica e genética: o mesmo defeito imunológico pode se expressar de forma grave em uma criança e de maneira leve e tardia em um adulto, o que dificulta a suspeita diagnóstica.
Sinais de alerta no adulto
- Embora o quadro clínico varie bastante, alguns sinais indicam a necessidade de uma investigação imunológica mais cuidadosa em adultos:
- Infecções de repetição – como sinusites, pneumonias e otites – que não respondem bem aos tratamentos convencionais.
- Doenças autoimunes ou autoinflamatórias inexplicadas.
- Doenças linfoproliferativas (quando células do sistema linfocítico se multiplicam de forma descontrolada) persistentes.
- Esplenomegalia (aumento anormal do baço) persistente.
- Aumento persistente dos gânglios linfáticos.
- Redução anormal e persistente dos níveis de imunoglobulinas (anticorpos) no sangue.
- Efeitos adversos severos a vacinas com vírus vivos.
- História familiar de EII, doenças autoimunes ou mortes precoces.
Casos de destaque em adultos
Alguns Erros Inatos da Imunidade têm prevalência na vida adulta e, por isso, precisam ser destacados:
- Deficiência Comum Variável (DCV): caracteriza-se por baixos níveis de imunoglobulinas, especialmente IgG e IgA, levando a infecções respiratórias recorrentes e a doenças autoimunes.
- Doenças autoinflamatórias: principalmente as de início tardio, como algumas formas de febres periódicas hereditárias.
- Síndromes de predisposição à infecção por microbactérias ou vírus EBV.
- Defeitos de sinalização de citocinas e receptores: afetam a resposta imune adaptativa e inata de forma mais sutil.
Tratamento
Existem tratamentos diversos para se combater os EII na vida adulta. Eles variam de acordo com a especificidade e gravidade de cada caso.
- Reposição de imunoglobulinas: é o tratamento mais comum para EII com deficiência de anticorpos, como a DCV. A reposição pode ser aplicada por via intravenosa (IGIV) ou subcutânea (IGSC) – e ajuda a reduzir infecções graves, ofertando mais qualidade de vida ao paciente.
- Antibióticos profiláticos: uso contínuo de antibióticos em doses baixas, para prevenir infecções recorrentes. Podem ser combinados com a reposição de imunoglobulinas e são usados principalmente em casos de infecções respiratórias frequentes.
- Terapias imunomoduladoras: indicadas quando há autoimunidade associada, inflamação crônica ou desregulação imune. Podem ser feitas com corticoides em doses controladas, com imunossupressores (azatioprina, micofenolato, ciclosporina) e, em casos específicos, com biológicos (rituximabe, tocilizumabe). Importante: essas terapias requerem um monitoramento rigoroso – uma vez que podem até agravar as infecções.
- Terapias-alvo (Targeted Therapies): com o avanço do sequenciamento genético, é possível usar medicações específicas para mutações identificadas (inibidores de JAK, mTOR, CTLA-4 etc.). Essas terapias são um marco da medicina de precisão e são capazes de reduzir inflamações ou mesmo corrigir disfunções moleculares específicas.
- Transplante de células-tronco hematopoéticas (TCTH): tratamento mais comum em crianças, mas que pode ser indicado em adultos com formas graves de EII. Necessita de uma avaliação rigorosa do risco/benefício.
- Acompanhamento multidisciplinar: além desses tratamentos diretos, o manejo dos EII em adultos deve incluir o monitoramento de órgãos-alvo (pulmões, intestino, fígado etc.), avaliação psicológica (por conta da cronicidade da doença), nutrição adequada e vacinação com orientação imunológica.
Diagnóstico e soluções da Binding Site
No adulto, o diagnóstico de EII envolve uma série de exames laboratoriais, como a imunofenotipagem, a dosagem de imunoglobulinas, além de painéis genéticos personalizados.
Outro caminho de diagnóstico importante é a avaliação da resposta vacinal. É aqui que se insere o Vacczyme®, exame da Binding Site que realiza a avaliação sorológica de resposta a diferentes tipos de vacinas pneumocócicas conjugadas.
Trata-se de um teste fundamental para se confirmar vários tipos de EII, uma vez que os portadores desses transtornos têm baixa produção ou sequer produzem imunoglobulinas (anticorpos) – mesmo depois de tomarem as vacinas.
“O VaccZyme® permite a avaliação de todos os 23 sorotipos detectáveis após a aplicação das vacinas pneumocócicas conjugadas. Outros testes disponíveis no mercado nacional detectam 7, no máximo 14 sorotipos”, explica a diretora científica da Binding Site Brasil, Dra. Elyara Soares.
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