Uma das preocupações emergentes no campo de estudo dos Erros Inatos da Imunidade (EII) é a possibilidade de eles estarem ligados ao desenvolvimento de Gamopatias Monoclonais.
Neste artigo, vamos explorar essa relação, entender por que a ciência está indicando este caminho – e o que isso significa aos pacientes.
O que são os Erros Inatos da Imunidade?
Os EII, antes conhecidos como imunodeficiências primárias, são distúrbios causados por defeitos genéticos que comprometem o funcionamento normal do sistema imunológico.
Essas condições podem variar em gravidade. Enquanto algumas podem causar infecções repetitivas e facilmente tratáveis, outras podem acarretar problemas mais sérios, como distúrbios autoimunes e cânceres hematológicos.
Gamopatias Monoclonais
As Gamopatias Monoclonais referem-se ao grupo de condições em que uma população anormal de células plasmáticas – as responsáveis pela produção dos anticorpos – se prolifera de forma descontrolada e passa a secretar uma quantidade excessiva de uma única classe de imunoglobulina, a chamada “proteína monoclonal”.
O transtorno pode se manifestar de diferentes formas, desde condições benignas, como a gamopatias monoclonal de significado indeterminado (MGUS, como são conhecidas da sigla em inglês) – até doenças mais graves, como o Mieloma Múltiplo.
A relação entre EII e Gamopatias Monoclonais
Embora sejam condições distintas, pesquisas recentes sugerem que pacientes com certas formas de EII podem ter um risco aumentado de desenvolver Gamopatias Monoclonais.
A razão para isso ainda está sendo investigada, mas há algumas teorias.
Uma explicação é que as deficiências no sistema imunológico provocadas pelos EII podem comprometer o controle sobre as células plasmáticas e sua produção de anticorpos. Isso pode resultar em uma proliferação anormal dessas células, favorecendo a ocorrência de gamopatias monoclonais.
Já foi observado que pacientes com algumas formas de EII (como a imunodeficiência combinada grave (SCID) ou as deficiências no sistema de complemento) têm mostrado tendência maior de desenvolver as gamopatias monoclonais – em especial quando o tratamento do EII não é suficientemente eficaz para restaurar a função imunológica.
Mais pesquisas
A seguir, listaremos alguns artigos publicados em importantes revistas científicas que abordam a relação entre os EII e as Gamopatias Monoclonais.
. Imunodeficiência e imunoterapia no Mieloma Múltiplo¹: o artigo descreve como o mieloma múltiplo (MM) causa profunda imunossupressão, afetando células T, células B normais, células NK e células dendríticas. Essa imunossupressão favorece a progressão do tumor e resistência às terapias. O estudo também explora novas abordagens imunoterapêuticas, como inibidores de checkpoint e terapias baseadas em células CAR-T.
. Uma história de duas imunodeficiências: caso de Mieloma Múltiplo associado a Defeito Imunológico Profundo que imita CVID²: o relato apresenta um paciente diagnosticado inicialmente com suspeita de imunodeficiência comum variável (CVID), mas que posteriormente foi diagnosticado com mieloma múltiplo. O artigo discute como o mieloma pode simular imunodeficiências primárias, complicando o diagnóstico precoce.
. A evolução da disfunção imunológica no Mieloma Múltiplo³: discute como a disfunção do sistema imune se inicia nos estágios pré-malignos como MGUS (gamaglobulinemia monoclonal de significado indeterminado) e evolui para mieloma múltiplo. Essa deterioração progressiva da função imunológica é crítica para o desenvolvimento e avanço da doença.
. Agentes contribuintes para o desenvolvimento de Imunodeficiência Secundária em MM, LLC e Linfoma Não Hodgkin⁴: revisão sistemática identificando causas multifatoriais de imunodeficiência secundária em malignidades hematológicas. Além da própria doença, terapias citotóxicas e imunossupressoras são apontadas como grandes contribuintes para a deterioração imunológica nesses pacientes.
Além desses, existem muitos outros estudos que investem na mesma frente de pesquisa.
Diagnóstico precoce e monitoramento
Por isso, o diagnóstico precoce e o monitoramento constante de ambas as condições são fundamentais para o controle do risco ao paciente.
Em pessoas com EII, por exemplo, é preciso regularmente monitorar a produção de imunoglobulinas e a saúde das células plasmáticas – em geral sendo acompanhados de perto por uma equipe multidisciplinar.
O teste VaccZyme®, da Binding Site Brasil, por exemplo, é um dos exames utilizados para se confirmar o diagnóstico de vários tipos de EII.
Ele faz a avaliação sorológica de resposta a diferentes tipos de vacinas pneumocócicas conjugadas, o que é importante para a detecção dos EII, pois portadores desses transtornos apresentam baixa ou nenhuma produção de anticorpos, mesmo depois de tomarem as vacinas.
Já para o diagnóstico de Gamopatias Monoclonais, o Freelite® é um dos exames que devem ser adotados – uma vez que ele efetua a detecção e quantificação das Cadeias Leves Livres Kappa e Lambda no sangue.
Nas Gamopatias Monoclonais (como o Mieloma Múltiplo, a Amiloidose AL etc.), clones malignos de células produzem anticorpos de maneira anormal ou mesmo apenas partes dessas imunoglobulinas (as cadeias leves kappa ou Lambda), sem formar o anticorpo completo.
Tratamentos inovadores
Estudos recentes têm focado na importância da terapia imunobiológica para o tratamento dos EII – e consequente prevenção das Gamopatias Monoclonais.
Uma aplicação promissora é o uso de terapias de reposição imunológica, como a administração de imunoglobulina intravenosa (IVIg), que pode melhorar a função imunológica e reduzir o risco de complicações associadas.
Novas abordagens terapêuticas, como a terapia genética, também estão sendo investigadas para se tratar deficiências imunológicas em nível molecular. Esses tratamentos têm o potencial de corrigir os defeitos genéticos subjacentes e restaurar a função imunológica normal – reduzindo, assim, o risco de gamopatias monoclonais.
Conclusão
Os estudos avançam para que cada vez mais haja entendimento entre a relação das Gamopatias Monoclonais com os EII.
O que já é fato consiste na importância atribuída ao diagnóstico precoce, do monitoramento regular e dos tratamentos cada vez mais personalizados.
É assim que a ciência bem-feita auxilia o dia a dia das pessoas, oferecendo melhor qualidade de vida aos pacientes.
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Referências:
- Pratt, G., Goodyear, O., Moss, P. (2007). Immunodeficiency and immunotherapy in multiple myeloma. British Journal of Haematology, 138(5), 563–579. https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/17686051/
- Nunnelee, J. D., et al. (2020). A Tale of Two Immunodeficiencies: Case Report of Multiple Myeloma Presenting With Profound Immune Deficiency Mimicking CVID. Case Reports in Hematology, 2020, Article ID 3890851. https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/31852056/
- Zavidij, O., et al. (2022). The Evolution of Immune Dysfunction in Multiple Myeloma. Nature Reviews Cancer, 22(2), 133-150. https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/35880386/
- Tadmor, T., et al. (2023). Contributing Agents to Secondary Immunodeficiency Development in Patients with Multiple Myeloma, Chronic Lymphocytic Leukemia, and Non-Hodgkin Lymphoma: A Systematic Literature Review. Frontiers in Oncology, 13, 1091571. https://pmc.ncbi.nlm.nih.gov/articles/PMC9941665/